25 agosto 2014

HUMILDADE

          Mais um texto de nossa colaboradora Veridiana, desta vez homenageando a grande poetisa cora Coralina:



Humildade
(pelos 125 anos de nascimento de Cora Coralina)
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Acho que já devo ter mencionado algumas vezes aqui, que sinto inveja de alguns escritores, pela sua liberdade de falar o que pensam, sem muitos pudores, arcando com as consequências com elegância e bom humor. Invejo Drummond, Machado, Millôr, Mário Prata, Quintana, Mark Twain, e mais recentemente passei a invejar Cora Coralina. Invejar e ao mesmo tempo nutrir uma certa esperança quanto à minha existência (literária ou não). Acho que os escritores - amadores ou profissionais - de hoje, preocupam-se em ascender rápido, serem best-sellers antes dos 40 anos. Por que a pressa, se a sabedoria só vem mesmo com o tempo?
E Cora Coralina é uma prova disso, tendo publicado seu primeiro livro, quando já tinha seus 76 outonos. Levou a vida de modo agreste, mas doce ao mesmo tempo. É a tal sabedoria que tanto invejo. Muitos de nós estudamos em boas universidades, frequentamos aulas de inglês, sabemos lidar com informática, viajamos, mas o saber da vida mesmo, esse não vem junto com todos os outros bens.
Imaginem uma mulher simples, que viveu distante das grandes cidades, doceira, ignorante sobre as modernidades e as regras gramaticais. Mas ela via beleza na modéstia, nas pedras das antigas ruelas de Goiás, na batalha pela vida depois que enviuvou e migrou de cidade em cidade, no interior paulista: Penápolis, Andradina, Garça... E foi transformando-se e perdendo cada vez mais o medo da vida. Essa mesma mulher simplória, que passaria despercebida pela gente na rua, é uma poetisa única que deixou lições de vida, como a humildade. Bem, o exercício da humildade é algo meio sacrificante, em tempos em que nomes, títulos, cargos e fama (instantânea) são a ordem do dia. Mas ela garante que essa era a fórmula do bem viver. Escolhi o poema Humildade para (tentar) resumir essa bênção em nossa literatura.
"Senhor, fazei com que eu aceite minha pobreza tal como sempre foi / Que não sinta o que não tenho / Não lamente o que podia ter e se perdeu por caminhos errados e nunca mais voltou. / Dai, Senhor, que minha humildade seja como a chuva desejada caindo mansa, longa noite escura numa terra sedenta e num telhado velho. / Que eu possa agradecer a Vós, minha cama estreita, minhas coisinhas pobres, minha casa de chão, pedras e tábuas remontadas. / E ter sempre um feixe de lenha debaixo do meu fogão de taipa, e acender, eu mesma, o fogo alegre da minha casa na manhã de um novo dia que começa."
Essa espécie de oração, quase franciscana, é praticamente um tapa na cara de todos nós, modernos, vaidosos e com medo de envelhecer. Quando na verdade, o medo que devemos ter é o de permanecermos para sempre jovens. Por que a juventude é como um belo doce de vitrine: atraente, mas quase sem gosto, aquele gostinho que desperta sensações. Que o diga a doce Cora.

"Procuro semear otimismo e plantar sementes de paz e justiça. Digo o que penso, com esperança. Penso no que faço, com fé. Faço o que devo fazer, com amor. Eu me esforço para ser cada dia melhor, pois bondade também se aprende" - Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas / Cora Coralina (1889 – 1985)

21 de agosto de 2014

Veridiana Sganzela Santos, jornalista, estudante de Letras e membro da Apeg (Associação de Poetas e Escritores de Garça)

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