03 setembro 2014

OS CAVALINHOS DE PLATIPLANTO


Mais uma colaboração de Veridiana Sganzela Santos:


Os cavalinhos de Platiplanto

Cavalos. Pra mim, sinônimo de beleza, postura, inteligência, amabilidade. Estudando a espiritualidade dos animais, aprendi que os cavalos (ao lado dos cães e gatos) são companheiros que entendem seus tutores, são sensitivos e mantêm uma ligação de amor e de alma com quem os cria com respeito, carinho e liberdade. Liberdade. Tá aí algo que muitos cavalos, apesar de inspirá-la, nunca conhecerão em vida.
Há mais ou menos uma semana, Gaúcho, aquele cavalinho que foi resgatado, muito fraco, que nem podia manter-se em pé, não resistiu às sequelas dos maus tratos. Os apaixonados por animais que ajudaram no resgate ou que acompanharam o caso lastimaram a morte de Gaúcho, mas meu consolo foi saber qu
e, mesmo no final da vida, ele chegou a conhecer um pouco da bondade humana. E aí, não tem como eu não me perguntar: por que um sujeito quer ter um cavalo? Unicamente para fazê-lo trabalhar? Será que nessas alturas do século, ainda tem gente que enxerga o cavalo apenas como força de trabalho? E trabalho duro, levando chicotadas, sendo deixado ao sol, tomando água só quando o dono quer (ou se lembra de dar). E depois, quando o bicho fica muito velhinho, ainda corre o risco de virar carne seca.
É para isso que alguns seres humanos querem um cavalo? Para exauri-lo e vê-lo definhar? Triste mundo real. É por isso que às vezes eu prefiro me enfiar num livro e embarcar na fantasia de alguns autores. Neste caso, no belo conto dos cavalinhos de Platiplanto, de José J. Veiga, onde esses lindos animais são felizes e podem brincar à vontade.
Em seu livro de estreia, Veiga parece falar às crianças, mas seus contos têm muitas mensagens para nós, adultos chatos que não sabem mais fa
ntasiar. O amor inocente pelos animais é uma dessas mensagens. Aqui um adulto conta sobre uma passagem de sua infância, vivida numa fazenda. Certa vez, ele feriu o pé ,brincando e não queria deixar ninguém mexer no machucado. Aí seu avô Rubem, em quem o garoto confiava muito, disse que se ele deixasse o farmacêutico fazer o curativo, ele ganharia uma bonita roupa para brincar a Folia de Reis, e também teria um cavalinho. Depois dessa “negociação” o garoto topou. E ficou pensando em seu cavalinho todos os dias, na maior ansiedade. Queria muito brincar com ele. Um dia, vem a notícia de que seu avô e grande amigo ficara muito doente. Tão doente, que nem deixaram que o menino o visitasse. E aí o sonho de ter seu cavalinho foi ficando distante.
Um de seus tios comprou a fazenda do avô e avisou que dali não sairia nenhum cavalo. Muito chateado, o menino foi andar, e andando foi parar numa outra fazenda. Lá ajudou um homem a terminar uma ponte e ouviu um menino tocar um bandolim, que parecia mágico. Também conheceu um senhor a quem todos chamavam de major, e o major lhe mostrou os lindos cavalinhos que viviam ali. Cavalinhos pequenos, cada um de uma cor, que saltavam, brincavam, divertiam-se tomando banho e dançavam. O menino ficou encantado ao saber que todos os cavalinhos seriam dele, desde que eles não saíssem de lá. Os cavalinhos deviam ficar ali, em Platiplanto. E aí, o menino despertou. E nunca contou isso a ninguém, com receio de ser ridicularizado. Mas agora, ele teria seus cavalinhos, lá, guardadinhos em Platiplanto. E os visitava com o pensamento.
E assim como o menino, sei que há inúmeros cavalinhos brincando e divertindo-se na água, talvez não em Platiplanto, mas num céu para os animais, onde a maldade e a mesquinhez humanas não entram. Mas lá entrou seu mais recente morador: Gaúcho.  

13 de fevereiro de 2014


eridiana Sganzela Santos, jornalista, estudante de Letras e membro da Apeg (Associação de Poetas e Escritores de Garça)

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Essa história parece saída de outra, bem antiga, muito recontada, e com uma mensagem implícita: OS MÚSICOS DE BREMEN, onde os animais, depois de velhos, são abandonados à própria sorte, ou sacrificados, como foi o caso do galo, que iria para a panela. O burro seria vendido no açougue. O gato e o cachorro morreriam pelos caminhos. Conta-se, que na época em foi escrita essa história, as pessoas idosas não teriam sorte melhor. A situação era semelhante, e o autor escreveu essa fábula, criticando costume.

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