A MALDIÇÃO DA PINGUELA
Zeca era morador de um sítio, antes de mudar-se para a cidade. Vivia lá com seus pais, desde que nascera. Seu avô também ali vivera, desde menino e, este contava, que o sítio fizera parte de uma antiga fazenda da cana de açúcar, na época do Império. Essa fazenda era tão grande, que os olhos não conseguiam enxergar onde as terras começavam, nem onde acabavam. Era uma imensidão! As plantações pareciam um oceano verde, ondulando com o vento. Centenas de escravos trabalhavam de sol a sol, arrancando da terra a produção que enriquecia mais e mais, o senhor de tudo ali: o Coronel Malaquias, mais conhecido como Corone´Marvado. A crueldade desse coronel era notória: fazia questão de açoitar pessoalmente, por motivos fúteis ou mesmo sem motivos, os infelizes escravos; sua esposa sempre foi maltratada, mas sofria em silêncio; os filhos morriam de medo dele. O povo dizia que ele tinha parte com Satanás, e que sua fortuna viera de um trato feito com o demônio. Havia uma pequena sala na casa, onde só ele entrava- era ali que ele cultuava o Coisa Ruim. O coronel percorria suas terras num cavalo negro como a noite, sempre acompanhado de um cão enorme, tão feroz como o dono, tendo um chicote nas mãos, sempre prontas para agir. Quando chegava em casa, de longe se ouviam seus passos pesados, acompanhados das batidas de sua bengala, que parecia uma pata gigante de bode.
Mas, certo dia, o coronel demorou para chegar para o almoço. Ela era muito pontual e queria a família reunida para essa hora do dia. Ficaram todos apreensivos! A tarde já ia adiantada, quando um escravo chegou esbaforido, gritando:
_ O coroné morreu! Ele tá caído lá perto da pinguela!
Foi aquele corre-corre para ver se era verdade. Para alívio de todos era verdade mesmo: o Coroné Marvado estava morto. Nunca mais iria castigar ninguém!
Quando foram preparar o corpo para o enterro, surgiu uma surpresa: no bolso do paletó do coronel havia uma carta, que mais parecia um testamento.
(Continua no próximo capítulo)
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