04 dezembro 2014

INDICAÇÃO DE LEITURA


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                 INDICAÇÃO DE LEITURA

               Mais uma vez apresentamos uma excelente colaboração de Veridiana Sganzerla Santos, jornalista que escreve semanalmente artigos no jornal Comarca de Garça.

            


Indicação de Leitura - Veridiana Sganzela Santos - A Sociedade dos Ruivos

04/12/2014

“O mundo está cheio de coisas óbvias, que ninguém, em momento algum observa” 

Sir Arthur Ignatius Conan Doyle (1859 – 1930)


Levantar uma bandeira, ajudar uma causa, fazer o bem... Mas com uma intenção obscura por trás. Quem é que já não viu isso, senão pessoalmente, então através de notícias de jornal? Um grupo, um partido político, uma falsa religião ou uma organização que aparentemente se preocupa com uma causa, que prega a solidariedade, mas que no fundo usa as pessoas para outros fins. É aí que eu acho que se encaixa aquela expressão que diz que de boas intenções o inferno está cheio. Mas também ouvi dizer que o inferno é aqui, então, está tudo de acordo.

Mas essa constatação vem de outros tempos. Dos tempos de Sir Arthur Conan Doyle. Li isso ao acaso (embora creia que não existam acasos), quando soube que no dia do meu aniversário, Sherlock Holmes também fazia anos: há 127 anos era lançado o primeiro romance policial sobre o famoso detetive, inovando o campo da literatura criminal. E aí achei o conto A Sociedade dos Ruivos, onde Doyle fala desses falsos benfeitores, ao mesmo tempo em que mostra, mais uma vez a sagacidade, serenidade e inteligência de Holmes.

No conto, Doyle fala através da narração de Watson, fiel escudeiro de Sherlock, num dia em que um senhor obeso e com uma cabeleira ruiva, Sr. Wilson, lhes contou sua desventura. Lhes mostrou um recorte de jornal que falava sobre a Sociedade dos Ruivos, fundada por um ricaço americano a fim de dar emprego aos ruivos de Londres. Os ruivos que trabalhassem na Socidade teriam um serviço leve e ganhariam 4 pounds por semana. Os interessados deveriam procurar o escritório do Sr. Duncan Ross. O Sr. Wilson, que tinha uma modesta casa de penhores (e os negócios estavam muito fracos), viu aí uma chance de aumentar seus ganhos. Foi rapidamente selecionado para entrar na Sociedade, e seu trabalho: passar a limpo a Enciclopédia Britânica. Mesmo feliz pelo emprego, ele achou o serviço ridículo. Ao final de um mês, ganhou seus 4 pounds e quando ia acabando a letra A, misteriosamente a Sociedade fechou, sumiu! Sr. Wilson contou a Holmes, que um pouco antes de entrar para a Sociedade, ele empregou Vincent, um rapaz muito esperto que aceitou trabalhar para ele pela metade de um salário e que tinha um hobbie: passava horas no porão “revelando fotografias”. Holmes pescou muita coisa ali. Por que o interesse em manter Sr. Wilson ocupado com uma bobagem por um mês? Holmes constatou que os joelhos de Vincent estavam enlameados, que o tal Sr. Duncan Ross não existia, que nunca houve Sociedade dos Ruivos e que a casa de penhores ficava de fundo com um banco.

Holmes armou um flagrante, pegando Vincent, cujo nome verdadeiro era John Clay, procurado há anos pela polícia, saindo de um túnel que ia da casa de penhores a uma sala no banco, cheia de ouro, na companhia do falso Sr. Ross. Arthur Conan Doyle, ao mesmo tempo em que nos brinda com a astúcia de Sherlock Holmes, com uma leitura agradável enquanto vai resolvendo os mistérios, fala de como podemos ser usados para fins que podemos nem saber quais são, através de gente salafrária. Outro ditado podemos ver aí: quando a esmola é muita, o santo desconfia.

Ao final, Watson disse a Holmes: “Você é um benfeitor da raça humana”, ao que o detetive modestamente responde, parafraseando Flaubert: “O homem não é nada. A obra é tudo”. Hoje vemos o contrário: obras valendo muito pouco diante do poder de poucos homens.

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