As cerejas
Conforme me acontece todas as
semanas, fico matutando sobre qual autor, livro, conto, história ou crônica
poderei falar. Às vezes busco por textos elaborados, com grandes lições,
grandes pensadores, mas percebo que nem só de figurões da antiguidade, de
escritores estrangeiros ou de imperdíveis mensagens de moral vive a literatura.
Ela também é feita de escritores "malandros" e textos curtos,
rápidos, engraçadinhos, que nos tiram por alguns minutos das chatices do dia.
Eis que no dia 7 de julho foi o
159º aniversário de nascimento de Artur Azevedo. Ao contrário de seu irmão
Aluísio, que era mais sério, Artur deixou-nos textos mais descontraídos, como
este, As cerejas, em que as frutinhas acabam sendo personagens importantes
neste caso de adultério.
Muitas vezes, como mera aprendiz
de escritora que me meto a ser, imagino que para ser levado a sério, o autor
deve escrever coisas profundas, com grandes desfechos, contos misteriosos...
Mas deparo-me com um conto aparentemente bobinho e vejo esse lado da literatura
que até nos faz pensar, mas ao mesmo tempo nos tira da mesmice dos textos
cinzentos, sisudos e cabeça. Aqui, Artur fala sobre Antunes, que fica
"secando" umas cerejas à porta da venda, lamentando que "os
cobres são tão curtos", mas que sua esposa morre por cerejas. Incentivado
pelo amigo Martiniano, ele acaba comprando-as, afinal "não são as cerejas
que nos arruínam".
Martiniano tomou o bonde e se
foi. Antunes, andando depois até o ponto, deu de cara com Pintinha, uma mulher
provocante que mexia com ele. Pintinha disse que estava com saudades e o
convocou para jantar. Antunes ficou na casa de Pintinha até tarde, e no final,
ela desembrulhou e devorou as cerejas, que seriam da esposa, a oficial, D.
Leopoldina.
Quando Antunes chegou em casa, a esposa
reclamou que ele não avisou que ia jantar fora. Ele mentiu que demorou porque
um amigo seu o arrastou para jantar num restaurante chamado Pão de Açúcar. Mas
a esposa estava impaciente mesmo era pelas cerejas. "Que cerejas?",
perguntou o embaraçado marido. "As tais que você comprou na Avenida para
me trazer (...) encontrei no bonde aquele teu amigo Martiniano, que me disse '
a senhora vai ter hoje magníficas cerejas ao jantar, vi seu marido comprá-las
na Avenida'", responde ela, ansiosa.
Nestas alturas, Antunes já tinha
em mente uma desculpa; disse que as havia esquecido no bonde. Leopoldina ficou
decepcionada, mas, paciência. No outro dia Antunes apareceu em casa para jantar
trazendo um embrulho com cerejas dizendo: "Estavam na estação". E
isso pôs um fim ao caso.
Casos de adultério, obviamente,
não têm graça nenhuma (a não ser para dois dos três envolvidos), mas dentro da
literatura, onde há modos e modos de contar, tudo fica parecendo até meio
romântico e chistoso. E essa é uma das características de Artur Azevedo.
Dramaturgo, poeta, contista e jornalista que escreveu mais de duzentas peças e
foi o "culpado" pelo surgimento do teatro no Brasil. Um sujeito que
prova que não é só porque se tem o dom da escrita é que tudo tem que ser quadrado,
rígido, intelectualmente infalível.
Nós, leitores, também precisamos
de um respiro, precisamos de personagens como nós, com suas graças, verdades e
defeitos. Nem que esses personagens sejam apenas cerejas!
"Na vida não é virtude
sofrer, mas saber sofrer"- Artur Nabantino Gonçalves de Azevedo (1855 -
1908)
Veridiana Sganzela Santos, jornalista, estudante de
Letras e membro da Apeg (Associação de Poetas e Escritores de Garça)
10 de julho de 2014
Meninas! Muito obrigada pela oportunidade de colaborar com meus textinhos. Estou muito contente pelo convite.
ResponderExcluir(e adorei a "decoração" das cerejinhas!!)
Oi. Veridiana, nós estamos felizes demais pela sua colaboração. Esperamos que você possa nos prestigiar sempre!
ExcluirGente por favoor, preciso urgente de um resumo desse conto, mas não estou conseguindo fazer... e para amanhaaaaa me ajuuuudem ?
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