12 maio 2015

CONTAR HISTÓRIAS? MARAVILHOSO!


                                            CONTAR HISTÓRIAS ? MARAVILHOSO!

                  Perceber os olhares curiosos e atentos!
                  Ouvir comentários sobre o conto.
                  Fazer a platéia rir ou se calar de apreensão.
                  Tudo isso, e muito mais, nos leva a contar histórias, para crianças, jovens e adultos. 
                  Às vezes alguém diz que não gosta de ouvir histórias, mas acaba gostando sim. Sabemos que algumas crianças podem estar contrariadas naquele momento. De repente,lá está ela rindo ou de olhos arregalados de interesse.
                  E nós, contadores de histórias, mais uma vez, nos sentimos felizes por ver sorrisos  de felicidade e encantamento!
                  Luís da Câmara Cascudo, num prodigioso trabalho de pesquisas pelo Brasil afora, coletou milhares de histórias, que são passadas de geração para geração. São histórias para ler e ouvir com grande prazer.
                  Destacamos esta para vocês: OS COMPADRES CORCUNDAS. 
                  Num lugarejo moravam dois corcundas; um era muito rico e o outro muito pobre. Eles eram compadres, também, como é costume entre o povo mais simples. O compadre corcunda pobre sentia-se infeliz pois as pessoas zombavam dele. Mas não zombavam do corcunda rico.
                  Para viver, o pobre saia pela floresta para caçar. Certo dia foi `a caça. Subiu numa árvore e ficou esperando que alguma presa caísse na sua armadilha. O tempo foi passando, e ele, cansado, dormiu. Quando acordou, já anoitecendo, desistiu de voltar para casa, dormindo ali mesmo. Mas escutou uma cantoria ao longe. Talvez fosse alguma festa! Desceu da árvore e foi seguindo o som do canto. Chegou numa clareira da floresta e assustou-se: um povo estranho, velhos, jovens e crianças, usando roupas que brilhavam refletindo o luar,dançava e cantava, de mãos dadas, repetindo o refrão:
                                        " Segunda, terça-feira
                                         Vai e vem."
                    Escondido num arbusto, o corcunda pobre, muito assustado, tudo via e ouvia. A cantilena não mudava. Horas depois, o corcunda foi perdendo o medo, e como gostava de festas e de tocar viola, do seu esconderijo cantou:
                                          "Segunda, terça-feira
                                            Vai e vem.
                                             Quarta e quinta-feira
                                             Meu bem".
                      A cantoria cessou e o povo estranho corria por todos os lados, procurando o autor da voz. Logo encontraram o corcunda pobre, e o carregaram como formigas carregam uma barata morta, até o centro da clareira, onde um velhão, com uma roupa que brilhava como diamantes, o interrogou:
                     _ Foi você que cantou? 
                     Muito assustado o corcunda concordou:
                      _ Sim, foi eu!
                      O velhão quis saber:  
                      _Quer vender seus versos?
                      _Sim, ou melhor vou dá-los de presente para vocês, pois eu gostei muito da dança e do seu canto.Podem ficar com eles!
                      O velhão e todo o povo esquisito riu para valer. O velho disse:
                      _Ficamos com os versos, mas como uma mão lava a outra, lhe daremos um presente.
                     O velho passou a mão na corcunda do pobre, que ficou alto e esbelto no mesmo instante. Deram-lhe, ainda uma bolsa, com a recomendação de abri-la apenas ao nascer do sol. 
                    O pobre voltou para seu lugarejo, e no caminho, quando o sol começou a raiar, ele parou  e abriu a bolsa. Quase morreu de alegria, pois ela estava cheia de moedas de ouro e pedras preciosas.
                      Agora ele não era mais pobre e nem corcunda. Comprou uma linda casa toda bem mobiliada, roupas novas, tudo o que o dinheiro pode dar de melhor. No domingo, montado num belo cavalo foi à igreja. Lá estava seu compadre rico, que muito se admirou de ver seu compadre pobre tão bem vestido e sem a corcunda. Quis saber o que acontecera. O compadre pobre contou todinha sua aventura na floresta. O compadre rico, que era invejoso, e por demais ambicioso ficou pensando numa forma de conseguir mais uma fortuna. Ele esperou outra lua cheia e foi até a floresta. Ouviu a cantoria e chegou perto. O povo esquisito cantava:
                                              " Segunda, terça-feira
                                               Vai e vem.
                                                Quarta e quinta-feira,
                                                Meu bem."
                       O compadre rico não esperou muito, e logo saiu berrando:
                                            " Sexta, sábado e domingo também."
                       Mas, imediatamente as pessoas esquisitas agarraram o rico, empurrando e batendo muito nele, carregando como formigas carregam barata morta e o jogaram no meio da clareira.
                      O velhão falou:
                      _ Quem mandou se meter onde não é chamado? O povo encantado não quer saber de sexta-feira, quando mataram o filho do Altíssimo, do sábado em que Ele ficou enterrado e do domingo, quando ressuscitou Aquele que nunca morreu! Não sabia, não? Pois fique sabendo agora! Para castigá-lo você vai levar o que deixaram aqui. Suma agora da nossa frente!
                    O velhão colocou a mão no peito do rico, deixando ali a corcunda do pobre. O povo esmurrava, beliscava e chutava o rico, que teve que fugir correndo, todo arranhado e machucado.
                   O compadre rico continuou rico, mas castigado pela sua ambição e inveja, agora tinha uma corcunda no peito e uma nas costas.







   

         




               


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