Indicação de Leitura - Veridiana Sganzela Santos - Horóscopo
29/01/2015
“A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade” – Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987)
Signos, búzios, cristais, cores, cartas, posição dos planetas, números. A lista de fatores que podem – ao menos teoricamente – influenciar nossas vidas é grande. Há muitos que creem nisso. Há muitos que vivem disso. Há quem zombe, há quem respeite, há quem tenha medo. Mas o caso é que esse universo é interessante, independente de funcionar ou não. Quem aí nunca deu uma espiadinha no horóscopo? Especialmente nos dias em que está apaixonado ou esperando por um dinheirinho?
Quando adolescente, eu acompanhava meu signo. Achava que tinha tudo a ver a descrição de “esportista, independente, viciado em viagens, aventuras, estudos e idiomas”, do sagitariano. Achava que isso me definia, me ajudava a saber quem eu era. Mas aí vi que de sagitariano mesmo eu só tenho o vício pelos estudos, viagens e idiomas. Nada de esportes! Tem ainda o horóscopo chinês que diz que eu sou de Carneiro. Faz muito mais sentido eu ser mais mansa, do que aventureira. Mas nunca deixei de fazer nada e nunca obedeci aos que os astros me sugeriam. Mas tem gente que não põe o pé pra fora de casa se não souber o que seu signo lhe reserva. “Eu não saio de casa se não ler o horóscopo!”, disse bravo certa vez alguém num dia em que o jornal deixou escapar a parte dos signos.
Tem gente que leva muito a sério. Tem gente que leva “na flauta”, e faz disso um meio para se dar bem, como o personagem da historinha de Carlos Drummond de Andrade: Alfredinho “achou melhor” obedecer o horóscopo e faltar no serviço: Touro (ele) deveria descansar e não entrar em embate com Áries (seu chefe): “Touro acha conveniente que eu não faça nada, como é que eu vou desobedecer a ele?”, pergunta, cínico à esposa quando ela lhe manda ir trabalhar.
Drummond fez um diálogo curto, mas muito engraçadinho do casal, em que o marido tenta convencer a esposa que de não presta se rebelar contra o signo, por isso ele, taurino, ficou em casa descansando, e que ao mesmo tempo poupou o chefe ariano de um desgaste: “É para colaborar com ele que eu fico em casa”.
E o folgado, ainda exigia sossego: ‘Não atendo telefone durante o dia. Não posso atender. Não vê que estou descansando, que o horóscopo me mandou descansar? É favor não fazer rebuliço nesta casa. Amor e paz, para o descanso do guerreiro (...) Preguiça é relaxante, restaura as energias, predispõe para o trabalho no dia seguinte. Mas uma coisa não tem nada a ver com a outra. Se eu não faço nada hoje, não é porque estou com preguiça. É em atenção a um mandamento superior, à mensagem que vem dos astros, você não percebe?”.
Pior que deve haver sujeitos assim mesmo. Se não se escondem atrás de signos, devem se esconder atrás de receitas médicas ou dicas de amigos para gazetear, mesmo dentro de casa... Mas Alfredinho não contava com a esperteza de sua sagitariana esposa. O simpático desfecho eu deixo para os leitores interessados descobrirem (Carlos Drummond de Andrade merece esse pequeno sacrifício).
Já na vida real, até sabemos que os astros e corpos celestes mexem com a gente sim – estão aí o Sol e a Lua para provar. Mas e Júpiter, o pai de todos os planetas? Saturno, com seus anéis misteriosos? Marte, tema de tantas histórias? O que eles nos reservam? Como eles mexem com nosso signo, com nosso comportamento? Não sei...
Só sei que do jeito que as coisas andam aqui na Terra, vai chegar um dia em que esses planetas todos serão cogitados, não como nossos regentes, mas como nossas próprias casas.