VERIDIANA DÁ AS DICAS:
INDICAÇÃO DE LEITURA - Risadômetro -
Veridiana Sganzela Santos
06/11/2014 -
Há alguns dias um amigo meu, de correspondência, o Juca Soares, me chamou a
atenção para uma coisa: vivendo lá em São Paulo e lendo o Comarca pela
internet, ele também acompanha esta coluninha e me disse que ultimamente tem
reparado que meus textos andam meio “amargos”. É, eu também já havia notado,
mas revisitando as quase 200 edições deste espaço, percebi o quão ranzinza
tenho sido. O engraçado é que essa constatação se deu bem na semana em que se
celebra o Dia Nacional do Riso. Descobri essa data por acaso (se é que acasos
existem) e vi que os últimos textos são mesmo mais carregados.
Conforme expliquei ao Juca, talvez isso se dê porque eu ando mesmo mais
“casmurra”. E isso acaba se refletindo na escolha dos textos indicados e nas
crônicas que faço em cima deles. Mas nem tudo são trevas. Ao longo destas quase
200 colunas também falei sobre obras e escritores que me arrancaram boas
risadas. Há pouco mais de 3 anos venho me divertindo ao escrever e indicar
livros e textos como Brás, Bexiga e Barra Funda (de Antônio Alcântara Machado),
As alegres matronas de Windsor e A megera domada (de William Shakespeare), O
mundo acabou! (de Alberto Villas), A hora da estrela (de Clarice Lispector) –
que diria é tragicômico -, O elogio da loucura (de Erasmo de Roterdã), poesias
doces, leves e alegres de Mário Quintana, Manuel Bandeira e Carlos Drummond de
Andrade, Cidades mortas (de Monteiro Lobato) – que tem lá sua pitada de
melancolia, mas é o retrato sem par de nossas cidadezinhas do interior, e essa
identificação nos faz rir - , A Mandrágora (de Maquiavel), O homem que sabia
javanês (de Lima Barreto), Polítipo e O macaco azul (de Aluísio Azevedo), Um
capricho (de Artur Azevedo), Garoto linha dura (de Stanislaw Ponte Preta),
Diálogo da grandeza relativa (de José J. Veiga), Santinha (de J. Emílio Braz),
Antena ligada (Lourenço Diaféria), Cem cruzeiros a mais (Fernando Sabino), O
torcedor (Carlinhos Oliveira), Volta às aulas – um retorno cada vez mais caro
(Carlos Eduardo Agostini de Novaes).
Se eu tivesse um “risadômetro”, poderia dizer que os campeões de risos foram o
ácido Machado de Assis, com seu Alienista e tantas crônicas soltas; o exótico
(e gateiro) Mark Twain, que em Dicas Úteis para uma Vida Fútil – um manual para
a maldita raça humana me fez recordar as broncas engraçadas que meu avô Antônio
distribuía entre os netos; o debochado Millôr Fernandes e sua Bíblia do Caos,
de quem morri de inveja, e o interiorano Mário Prata, que desde os meus 14 anos
me diverte e me incita a escrever (e lá se vão 21 anos).
Boas histórias e contos muito engraçados já passaram por aqui, e por isso torno
a recomendá-los (quem perdeu ou não se lembra, pode procurar pois eles que
valem a pena). Mas não é sempre que a gente está com espírito para rir. E por
isso, por alguma razão, textos mais sisudos sempre aparecem, nos atraem, nos
chamam. Quem gosta de ler e de escrever já deve ter sentido isso, esse
magnetismo por textos tristes, sérios, pesados, tétricos até, dependendo do humor
e da fase que se atravessa. E estou nesse período (fim de ano + verão = meu mau
humor), mas só de relembrar esses textos tão leves e que me fizeram rir
sozinha, vejo que até a tristeza pode ser driblada de vez em quando, através de
uma música, de uma boa conversa, de um carinho em um animal, do sabor de um
doce gostoso, de uma caminhada ou de um livro.
A Literatura, além de todo o conhecimento e engrandecimento que ela nos dá,
ainda nos proporciona esses momentos de felicidade, pois como já dizia Machado
de Assis, não existe a felicidade, mas momentos felizes. E aí descubro que hoje
é o Dia Nacional do Riso. E foram tantos os textos que me deram esses momentos
felizes que não me atrevo a recomendar apenas um. Seria injusto com os tantos
autores, vivos ou idos, que me presentearam com histórias bem humoradas (e que
nem por isso foram menos inteligentes, talvez até mais), que deixo aqui meus
nomes favoritos até hoje: Machado de Assis, Millôr Fernandes, Mário Prata,
William Shakespeare, Mark Twain, Paulo Mendes Campos, Câmara Cascudo, José
Jacinto Veiga, Mário Quintana, Luís Fernando Veríssimo, Carlos Drummond de
Andrade, Fernando Sabino, os irmãos (Aluísio e Artur) Azevedo, Stanislaw Ponte
Preta, Rubem Braga.
Recado dado, recomendações feitas, riso inevitável.
Veridiana Sganzela Santos é jornalista, escreve no Jornal Comarca de Garça e colabora com o nosso blog, sugerindo boas leituras.
Vamos aproveitar suas sugestões!